Epitáfio

A espaços, entendo-me. E confio no juízo que faço das coisas. Posso parecer distante, mas estou por perto. Trago dentro de mim o mundo que escolhi como casa. E essa é tarefa larga, solitária, silenciosa. Prescrevo para mim, como remédio, medicação exacta. E a terapia sustenta-me a consciência e faz-me percorrer caminhos, dar saltos fugazes ou calar gritos prestes a acontecer. Dissolvo-me com água após as principais refeições. E recupero. Aguardo apenas por uma chamada do meu corpo. Quando for hora, lá estarei para lhe dizer que estou contente com o que fui e que a carga que, afinal, me fez mover se manteve intacta e forte e solidária. O meu corpo ao meu corpo. A espaços, entendi também as fórmulas do amor e aprendi a desfazer-me de desenganos. Fui íntegro nas palavras que proferi e nada fiz que matasse noutro alguém a expectativa de qualquer promessa. Dormirei em paz. A minha alma saberá onde encontrar-se. Adeus. (Texto escrito em Lisboa, Dezembro de 2008)