Não confundir

"Não confundir". Foto do original

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A noite é quando os corpos adormecem
digo
os dos pássaros
que das árvores

essas

crescem subindo em sono constante.

Sob o véu azul do seu veludo
não há asas que batam
ou folhas espreguiçando-se.

Sim, a noite tem um sinal
nas costas
uma curva apertada
na alma
sente uma ligeira dor
a cada hora
prende os longos cabelos
no umbral de cada porta.

Para que não haja quem se engane
e diga do dia as mesmas coisas.
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Bons conselhos

Foto: J.E.O., Soalheira, Abril de 2011


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Esquece toda a dúvida
                  o remorso
                  o copo vazio ao fim da noite
                  o alcatrão silencioso e a paisagem

Recupera para ti toda a vontade
                  o primeiro gole
                  ainda a sede
                  a viagem que te fez de encontro ao sul

Amplia o arco dos teus olhos
                  o ar que agora inspiras
                  o alcance novo dos teus passos
                  a fé ainda morna nos teus bolsos

Guarda contigo a cor dos dias
                  as vagas cortadas pelas quilhas
                  o vento a velejar sobre as marés
                  o azul azul que te encontrou. 

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Sobre o silêncio


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Sobre o silêncio
nada mais há a dizer.

A não ser que mata
e destrói o que nunca se quis ouvir
ou tudo o que está mesmo quase a ser dito.

Esse estar calado das bocas,
ferrugem insistente,
lapa nas paredes da garganta
barragem às palavras que persistem no escuro do estômago.

O discurso nunca proferido.

Constante animal de palco,
oculto nas pequenas e mais teimosas heresias,
camuflagem da impotência e da revelação.
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Metal, tambor, metal

"Metal, tambor, metal". Foto do original

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Fora de casa é já dia pleno
mas há uma noite que persiste
            cá por dentro
há esta fanfarra
a percorrer as minhas veias
não a oiço nem vejo
apenas lhe sinto o latejar
no corpo estreito.

Metal, tambor, metal
e mais silêncio

É estranha a festa
quando o metabolismo é imperfeito.
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