Cansado. Morto. farto.
O fardo dos dias pesa como chumbo
e já nem a força da vontade me empurra para a frente
Levanto os braços ao tecto
rastejo por entre grãos de pó, incontáveis
quero, também eu, ser pó que me liberte
Adiro ao mundo sem respirar
Bocejo por prever de antemão o meu próprio futuro
lágrimas de sal sem mar nem ondas
Sujeito-me ao mínimo de mim
E assim, recluso do meu corpo exasperado,
fraquejo. Falta-me a chave do teu dorso.
Faltam-me os teus olhos
Que procuro para onde quer que me volte.
faltam-me os olhos.
Onde estou nesta manhã?
Quem me liberta do grito?
de onde virá quem me salve deste medo?
De que onda, de que mar?
Salvem-se, ao menos, os meus olhos,
para que voltem a chorar quando te fores.
Grito, maldito,
Até à rouquidão total e última
no vértice deste fôlego que me resta
Do eco que me chega
Não vejo notícias novas, nem nuvens
nem outra coisa qualquer que me alivie
Porque o meu eco é surdo, mudo e cego
e cambaleante de vontade
retrai-se nas paredes que me falam
Retiro tudo o que disse até agora
Volto costas às palavras
E faço beicinho
para que o eco me devolva tudo o que é meu.
(Texto escrito em Outubro de 1996)
JEO