Entre dois


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De longas e intermináveis perguntas é desenhado o perfil de cada um de nós. O meu. O teu. E do entretanto, o que é feito? Do que fica a meio de nós dois? Será de sombras e vento limpo, de cascas de pinheiro, terra batida ou uva pisada isso que fica? Onde não estamos, o que há? Perfume de nenhures, almas, silêncio. Sombra. Gosto do que me dizes, quando o dizes. Esse é momento em que o estar parado das coisas não tem lugar. Esse é o máximo e o mínimo encontrados. Nesse entretanto sei-te aqui e isso me basta. Não vou passear, não saio para respirar nem para matar a sede, não necessito do mais que haja, se o houver. Porque me deste o que me falta. Amordaça o que digo e vê se daí sobeja ainda um sopro de ar. Vê lá. Sobrou? Viemos de um lugar qualquer que nem sonhámos e aqui somos, soldados de um posto que não quisemos e de que só pretendemos fugir. Corre. Vem por aqui, pisa sobre as marcas que deixei e engana o mundo inteiro que cegamente te persegue. Não é bom? Que bem que sabe, esse fugir silencioso que te dás. Dá-me o teu espaço em troca dos meus pés. A longa corda do meu caminho haverá de pertencer-te – cada memória, os meus dias, o fôlego que já gastei. O respirar. Dou-te tudo a troco de um lugar que desconheço e quero meu. Aceitarás o que te peço? Mas, afinal, o que te dou?
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