(c) Paolo Pellegrin/Magnum Photos 2003
Desejaria esvaziar-me do mundo, voltar ao zero de onde procedi. Ser, de novo, raiz profunda do fio de vida que me deu origem.
Desejaria não ser, por uma vez, quem e o que sou hoje e agora.
Desejaria não querer nada para mim, desactivar-me. Para voltar ao grau nulo do que fui.
Não desejar é o meu maior desejo. Mas, inoportuna, a vontade de querer já não me larga. Mantenho-me dentro de mim. E nunca me hei-de separar deste corpo que me transporta atormentado. Desejar, assim, o que seja é querer possuir o que não há, sentir o que não se dá, engolir coisa que nunca se comeu.
Dói-me a barriga. Melhor seria que a dor fosse, ao menos, outra. Qualquer. Todas as dores menos esta. Ou nenhuma.
Mas, afinal, o que me peço? Para que multiplico, assim, sem substância? Porque me dou a estes pensamentos?
Desejaria não desejar absolutamente nada. Dizer não. Desdizer-me, desviver, desacordar. O que me digo? Não quero ouvir! Quando me apago?
(Texto escrito em Novembro de 1996)
JEO
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