Elefante. Leão. Gibóia. Joaquim.

Menina Mariana telefonou, diz a criada. Que sim. Que deixe mensagem. Mas se já ligou... Que para a próxima, se próxima houver, digo eu, que ouvi toda a conversa. Esse ocupar oco do tempo e do espaço. Esse fio de navalha romba que nada corta, que nada tira e nada dá. Esse vazio. De que húmus é esta gente feita? Procurará um sentido para a vida? Mas, que raios... Que um raio me parta. Essa era boa. Que um raio me partisse. E eu, ali, de metades feito, em viagem. Quebrado. Dividido. Impróprio para consumo individual. Não me poderia afastar. Que é do bilhete? Para onde? Ah, esse comboio já saiu, há coisa de quinze minutos. E agora, o meu rico dinheirinho. Vou-me queixar. Oh, mãe! E um raio partiu-me. E, assim, fulminado pela mão pesada de uma nuvem, entrei numa gruta de fogo. Incandescências. Milagres. Profecias. E morri. Ali mesmo, inhozinho da silva. E era eu. Re-morto. Desnascido. Pura imagem de mim mesmo. Elefante. Leão. Gibóia. Joaquim.

Foto (c) Joaquim Eduardo Oliveira, A23, Soalheira, Fundão, 2008

Sem comentários:

Enviar um comentário