Ficou satisfeito, não é verdade?

Tenho aqui um macaco... que... isto... ai. Fóige! Estava preso ao pêlo. E veio o pêlo com ele. Tanto melhor. É menos confusão na salinha do nariz. Bem. E a propósito de nada, venho comunicar a Vossas Excelências que a cor da noite acabou de esmorecer. Misturou-se com o seu próprio corpo. E anoiteceu. Este foi um fenómeno que se verificou apenas hoje. Não mais se verá. Foi caso raro. Mas ficou gravado. Quem tiver perdido a ocasião... PODE RECORDAR TUDO COM O DVD DE APENAS 12 EUROS, SEM CUSTOS NEM PORTES DE ENVIO. Stock limitado às palavras que você consegue ler nesta mental e colectiva falcatrua que o convence a guardar para nada o nada que já comprou. Bem. Adiante. Você já pagou. Ficou satisfeito. Não é verdade? E que se lixe a teoria de Kant, que não tinha tempo nem para tomar banho, de tanto escrever. Não é verdade? Ai não? Ouvi dizer...
Foto (c) Joaquim Eduardo Oliveira, Quinta da Luz, Lisboa, Abril 2008

2 comentários:

  1. Nunca me hei-de esquecer de um bilhete que me deixaram debaixo da porta do quarto onde vivia. Dizia: "vejo que continuas a trabalhar torrencialmente". Mas eu estava apenas adormecida. Fazia dos dias noites e das noites noites. Dormia sempre. A realidade atormentava-me e fugia prós sonhos. Estes, ainda mais tormentosos que a realidade, faziam-me ter com a almofada uma relação privilegiada. Provavelmente nunca consegui estabelecer com ninguém uma relação igual à que tive com aquela almofada durante quatro anos, mais dois anos, mais dois anos. Era um grande consolo aquela almofada. É que as palavras não saíam nem da realidade nem do sonho. Ficavam lá dentro a chocalhar e a fazer zenir os ouvidos. O silêncio era absoluto. E eu valia-me dela para abafar os únicos sons que conseguia fazer sair do instrumento. Sim, sim, tinha um trompete. Não, não era um trompete. Era uma concertina. Era, era uma concertina. Uma concertina. Sempre pensei que não gostava do som da concertina, mas não sei bem explicar porquê. Valeu-me tanto aquela concertina! De vez enquanto ainda toco nela. Ou ela toca em mim, não sei. Agora, não sei. Agora. Agora, entre as orelhas esta coisa de que o Freud, o Nietzsche e o Marx vieram pra me tirar o sossego. Deixem-me em paz, fosca-se! Metam-se entre as orelhas de quem tem cabeça de verdade! Mas eles não me dão ouvidos. Devem ter estado com muita atenção ao que a mamã dizia da enxaqueca... "é sinal que a lá tens, filha!” Porra! Só a mim os deuses não me dão ouvidos! Deixem-me em paz, não quero pensar mais na liberdade! Não quero pensar mais. Não quero pensar. Não quero. Não!

    marri

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  2. Olá, Marri. Encontro algo do belíssimo poema "FMI", do José Mário Branco, nas palavras que aqui nos trouxe. Se não conhece, valeria a pena experimentar ouvi-lo. Se não souber como encontrá-lo, diga-me.

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