Ó Lídia, dá-me aí dois euros e quarenta

Dói-me a ponta do indicador direito. E não lhe ligo. Negligencio uma parte de mim. Não a penso. Apenas sinto. De vez em quando. É como se fosse uma ausência sempre presente. Uma pedra no fundo da bota, que teima em não se mexer dali. Filha da mãe. Rai´s parta a merda da pedra. E vai-se a consciência nestas coisas. Saltimbanca como se disso dependesse o nascer do sol. E não se faz mais nada que valha. Não. Não se olha para dentro. Não se lê. Nem se respira. Deixa-se o tempo fugir. A qualquer hora. Sem sentir falta. Para quê? Consciência dói, minino. Custa supórtá. É indjigésta e sufócântxi. Ce n´est pas vrai? Compra-se a preço de saldo de vez em quando. Mas aquilo gasta-se muito e perde o sabor também. Ai. Que se aquilo não tivesse um cheirinho ia à loja do lado e comprava trinta daqueles redondinhos. Dos outros. Tá a ver? Daqueles que parece que fazem crescer borbulhas a algumas pessoas. Mas a mim não. Ó Lídia, querida, dá aí dois euros e quarenta, sim, desses aí de baixo.
Foto: (c) Joaquim Eduardo Oliveira, Lisboa, Abril, 2008

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