Sozinhos, assim como somos

Lindo. Lindo. Muito bem. Olha, é isso mesmo. Agora sai daí. Deixa-me entrar na banheira. É minha a vez. Mas que prazer inominável é esse? Mas que é da vergonha. Do pudor? Da carroça e da criada? Que é desse tempo. Desse nevoeiro de consciências morto jovem, graças a deus. Sebastião come tudo, tudo. Tudo. E quem o espera? Ai é verdade. Ninguém. E todos, pronto. Não nos demos autorização de ter saudades? Ou de não carecer de um fantasma ao qual chamemos pai? À bússola que nos inventámos? Portugueses! Ao nosso encontro? A sermos sozinhos, assim como somos. E mai nada? Lindo, lindo era seres azul e eu também. E andarmos por aí sem nos mexermos. E soprarmos nas orelhas dos outros sem sermos notados. E matar! E matar qualquer coisita que esteja estragada, pronto. Um bicho qualquer. Uma formiga, vá. É pequenita. E não sente a dor. Não é?
Foto: (c) Joaquim Eduardo Oliveira, Soalheira, Fundão, 2008

1 comentário:

  1. Eu sabia que voltavas. Não sabia quando nem com que sabor. Mas adivinho-te a alma inteira. Nunca te distrais. Só aparentemente te encostas aos muros das ruas como que a querer evitar ser atropelado. Mas os veículos circulam sem regras, apesar de tudo, apesar da eterna repetição do mesmo. Não há polícias nem multas que nos valham e as pílulas deixaram de fazer efeito. É forçoso viver ou então, não.
    Amo-te, tua são

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