O absurdo. Absurdo O.

Mas, afinal, de que é que estamos à espera? E por que nos penitenciamos? E rezamos, temendo o fundo eterno de um poço imaginado, mas fumegante, borbulhante, aviltante, angustiante. O medo. O pecado. A fórmula exacta do erro. Às 17 e 23. A uma hora qualquer. O temor mais profundo de deixar escorregar das mãos a perfeição que nem sequer se entende. O pudor de ter medo. De não ter fé. Esgrimo aqui palavras insensatas, por certo, para muitos. Mas esses serão os incautos detentores de uma verdade que nunca existiu nem nunca existirá. Vou jantar. Uma comichão imensa. E quê? Não se coça? Onde é que, afinal, mora esta verdade? Mas de que piolhos imberbes posso ter a certeza da existência? Dois dedos de ser. Uma lambada de cheiros e perfumes. Meio cambiante de nada. O absurdo. Absurdo O. Afasto-me um pouco. E tudo muda. Tudo ou nada. Assim, talvez. Talvez um pouco. Muito. E quem me afaga? Que me corrói nessa desgraça minha que é ver os outros apodrecer, iguais a mim? Bem que me afasto. De nada serve. Fica maior o pouco que restava. Ganha corpo o fôlego moribundo. Vibra de cor esse preto-e-branco de um segundo. A eternidade. O impensável acontecido. O fim do mundo. O fim de mim.
Foto (c) Joaquim Eduardo Oliveira, Campanhã, Porto, 2008

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