A imensidão calada das coisas

Penso o silêncio. Oiço o calar de tudo o que é calado. Encontro-me com a totalidade, com um universo que não fala comigo, com a imensidão calada das coisas. E fico só.

Nesse momento encontro a minha face outra, o meu eu que não conheço e não desvendo, porque calado, também ele. Fico ainda mais só. Todo. Eu. Só, eu todo. E adormeço. E finjo ser então calado também no meu sono. Finjo-me enquanto não sei quem sou ou o que desvendo.

A imensidão toda que pensei perde-se nesse pecado de fingir, nessa fronteira entre um bem e um mal que não conheço, mas que sinto, paredes-meias com a minha consciência do que é bem para mim e do que é mal para comigo.

Transfiguro-me no sonho e sinto um cheiro inválido e perene de nevoeiros oníricos que me fazem submisso de si. Perco-me, também, por isso. Porque não sei o caminho de volta. Porque não sei se é labirinto ou terra plana e limpa esta que piso.

Porque já não sei qual o momento de acordar.

(Texto escrito em 1989)

JEO

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