A minha hora é uma âncora

Pudera eu o mar nas minhas mãos. Quisera eu, ao menos, sonhá-lo. Todo. Invejo-o porque não cabe em mim, ao contrário do meu corpo que cabe todo nele. Submerso e submisso. Humilde, este corpo.

O oceano-mar é muita água para os meus olhos. É muito espaço. Demasiado, para que eu nele me aventure.

Desmaio, de tanta água. Perco o fôlego e o rumo. A minha caravela deambula saboreada por ondas de todas as marés. As suas velas afagam esta atmosfera marítima e azul onde me perco. Os meus olhos afundam-se na noite do mar como as mãos se afundam nos bolsos do casaco marinheiro.

A minha hora é uma âncora recortando as águas, assente num fundo de areia e conchas. O Sol aqui não borbulha, apenas remete as sombras para mais fundo, em baixo. Ondulantes e intocáveis.

O corpo dos homens é na terra barrenta, assente, sedenta, arada e parturiente das árvores e das flores.

Afago a cara e acordo. Do meu sonho uma lembrança: peixes nadando em 'terra de ninguém'.

JEO

Sem comentários:

Enviar um comentário