Não mereço nada do que tenho

Amargamente me apercebo da hora tardia em que acordei. Até então vivi em sonhos. No paraíso de uma consciência liberta. Prazeres agora findos.

Já não há lugar para vícios inoportunos e excessivos.

Revejo a minha cara no espelho verdadeiro do mundo: este sou eu!, o ilusionado, o visionário acordado fora de tempo, o sonhador enovelado nas palavras mansas e arredias de tudo o que é vil e humanamente insuportável.

Não mereço nada do que tenho. Sanguessuga desde que nasci, até agora. Os meus olhos, agora (tarde) bem abertos, nada enxergam. A cor que vêem nas coisas é só sua, ficção ocular e frágil, mesmo assim.

Desfaleço. Ninguém me acode.

Há muito que não estava só.

(Texto escrito em 1989)

JEO

1 comentário:

  1. Então, amigo!
    Que crise é essa? Sabes que eu estou aqui! Me liga, vai!
    PPM

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